sábado, 28 de março de 2015

Religião, coisa de alienados?



Obs: Quero informar que NÃO DISCUTO FÉ NESTE ARTIGO. NÃO DISCUTO DOUTRINA. NÃO DISCUTO SALVAÇÃO. Não estou dizendo que a religião salva, nem que a religião não salva. Estou dizendo apenas que a religião tem sua importância para a sociedade, e não se conhece sociedade que não tenha produzido religião. Estou dizendo que a fé não é alienadora. Uma crítica à crítica de Marx. Nada mais do que isso. Aqui NÃO DISCUTO TEOLOGIA! Minha intenção neste texto é defender a religião e a liberdade religiosa. Uso o sociólogo Émile Durkheim como referência teórica.

Podemos definir religião como conjunto de conhecimentos, ações e estruturas com que o homem exprime reconhecimento, dependência e veneração em relação ao sagrado. Uma definição mais simples e objetiva está na própria palavra religião que tem origem latina e significa religar. Religar o homem ao sagrado. Para tal, dois elementos precisam ser considerados: o mito e o rito. O mito como sendo a parte doutrinária, de crenças. O rito é a parte de práticas religiosas ou práticas de culto. Antropólogos afirmam que o homem desenvolveu atividades religiosas desde sua primeira aparição e que não se ouviu ainda falar de sociedade que não tenha produzido religião. Todas as tribos e todas as populações, de qualquer nível cultural, cultivaram alguma forma de religião. A religião é uma das manifestações mais próprias, autênticas e genuínas do homem. Para Teixeira (2009), Durkheim definiu a religião como sistema de crenças e práticas relativas a coisas sagradas que unem numa mesma comunidade moral todos que aderem a ela.


Fenômenos da religião:

O Fenômeno Filosófico da Religião
No processo de reconstrução de projeto de vida e formação de identidade, precisamos levar em conta a importância do fenômeno filosófico da religião. Segundo Hegel, a religião e a filosofia têm em comum a busca da verdade. O conhecimento religioso tem um objeto vastíssimo, tem explicação para o sentido da vida, para a origem de tudo. As interrogações e afirmações sobre a essência do homem e de Deus norteiam e dão sentido à vida. Ao invés de um papel alienador, como afirmam muitos sociólogos, o papel filosófico da religião oferece um viés conscientizador, à medida que responde perguntas cruciais da humanidade. Quando um ser humano conhece sua essência, o sentido de sua vida, e seu destino, consegue encarar a vida de maneira mais confiante. 

O Fenômeno Ético
Também não podemos ignorar o caráter ético que a religião confere ao homem. A religião normatiza o comportamento humano, conferindo a ele estigmatização do certo e do errado de acordo com um padrão previamente definido. Durkheim observou a importância da religião no que tange ao caráter ético. A moral havia se tornado empobrecida e descorada, tinha perdido a sua força com o apego à razão e o abandono do sagrado. Ele constatou um fracasso: uma ética cortada da religião não cumpriria o seu papel essencial que era infundir um estado de saúde moral à sociedade. Pois, em perspectivas laicas, falta ao educador algo que o “levante acima dele próprio e lhe comunique um suplemento de energia.” Ele passa a entender que a moral deveria revestir-se de uma aura religiosa. Exatamente: o mesmo Durkheim que acreditava no futuro da razão em detrimento ao sagrado parecia reconhecer a necessidade da volta ao sagrado!
Para Durkheim, a dualidade sagrado-profana faz da religião uma entidade que define limites entre o certo e o errado e os faz operar, na medida em que recompensa quem está
certo e pune quem está errado. Trata-se de promover sentimentos de fazer parte e de exclusão. Nessa perspectiva, indivíduos aderem a preceitos de moralidade. 

O Fenômeno Sociológico
A religião atua ainda no âmbito sociológico, pois promove a inserção dos indivíduos nas redes de socialização. Os sistemas religiosos atuam como agências socializadoras, promovendo a transformação e a aceitação do indivíduo em seu meio. No meio religioso encontramos pessoas de diferentes classes sociais se relacionando. Homens e mulheres, idosos e jovens, ricos e pobres são considerados iguais. Os ritos aproximam os indivíduos e aumentam o contato entre eles, tornam-nos mais íntimos. Durkheim observa que o nosso grau de envolvimento com pequenos grupos sociais à nossa volta nos conduz a uma maior ligação com a sociedade em geral. Quanto menos conectado um indivíduo se encontra com a sociedade, menor a condição de agir de acordo com as expectativas e valores sociais. Ao contrário do que previu Marx, Durkheim acreditava que enquanto persistisse a sociedade persistiria a religião. Para ele, a religião é produto de relações sociais. 

O Fenômeno Político
A religião confere ainda ao ser humano noções de estruturação política. A política é inerente ao ser humano, e toda organização terá alguma orientação política. Seja de centralização de poder em um homem, seja de poder dividido pelos votos, seja no poder representativo. No catolicismo e no pentecostalismo, por exemplo, temos a centralização de poder na figura de um homem, o Papa, no catolicismo, e o pastor presidente no pentecostalismo. Nas igrejas batistas temos a poder dividido pelos votos. Na presbiteriana temos o poder no presbitério, que funciona como espécie de senado. As outras religiões tem suas maneiras de divisão e estruturação de poder.

O Fenômeno Psicológico
Psicologicamente, a religião atua como mecanismo de bloqueio ou escape das expressões emocionais. A religião tem a função psicológica de livrar o ser humano das angústias que o afligem. A religião auxilia na construção e reconstrução da identidade, na identificação de seus sentimentos e ensina a lidar com eles, garantido equilíbrio emocional. a etnóloga Brigit Allenbach observa a importância da religião para os jovens como um fator importante na procura da identidade, apesar de não ser o único. "Dependendo da situação esse grupo se aproveita de categorias nacionais, religiosas ou étnicas, para se diferenciar e mostrar sua pertinência", afirma 

O Fenômeno Transnatural
Por último, o fenômeno transnatural que possibilita ao homem unir o humano com o divino e descortinar realidades espirituais. Como Durkheim observou:
"O homem que se submete a um deus não se submete apenas à uma autoridade de quem depende, mas é uma força sobre a qual se firma a sua força. O homem que obedeceu ao seu deus e que , por essa razão acredita tê-lo consigo, enfrenta o mundo com confiança e com sentimento de energia fortificada."
Para Durkheim, a religião supõe uma ação de forças que elevam o indivíduo acima dele mesmo e o transportam para um meio distinto daquele no qual transcorre sua existência profana, o que o condiciona a viver uma vida mais elevada. Durkheim rejeita a religião como sistema de ideias e passa a considerá-la como um sistema de forças. Para ele, quando um homem vive uma vida religiosa, pensa participar de uma força que o domina, mas que, ao mesmo tempo, o sustenta e o eleva acima de si próprio.

Conclusão:
Concluímos que a religião sendo analisada fenologicamente, tem relevância fundamental para a sociedade, e, Karl Marx estava errado quando afirmou que a religião é o ópio da sociedade. A religião, como qualquer outra ideologia, pode até ser considerada ópio sim, mas, como dizia um amigo, generalizar é pegar uma pequena verdade e transformá-la em uma grande mentira. Vemos hoje o marxismo sendo usado como ópio, enlouquecendo multidões, forjando o alívio da dor dos mais pobres, enquanto o Estado tem explorado os mais pobres.
Karl Marx, religião não é ópio!  

PS: Estou preparando um artigo, baseado neste, que fala sobre a importância do atendimento religioso no sistema prisional brasileiro, pretendo publicar em breve.

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